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CHRIS LAUXX é um pseudônimo de Ana Paula Laux e Rogério Christofoletti, jornalistas que mantêm o site www.literaturapolicial.com.
Neste momento, eles concluem o primeiro romance policial, a ser finalizado em 2015.

ANA PAULA LAUX - Jornalista e pesquisadora em Florianópolis. Seu trabalho de conclusão de curso foi o Almanaque dos Detetives, pesquisa de 2009 que deu origem a Os Maiores Detetives do Mundo. Foi editora dos sites Gaveta do Autor e Grandes Detetives. Em 2012, contribuiu como pesquisadora no livro Almanaque Pinheiro Neto, Nossas Sete Décadas e desenvolveu o site do escritor Mario Prata. Não resiste a um clássico policial.

 

ROGÉRIO CHRISTOFOLETTI - Jornalista e professor universitário, publicou dez livros acadêmicos, de autoria própria ou coletiva. Para teatro, já escreveu oito peças, das quais cinco já foram encenadas. Devora quadrinhos, cinema e romances policiais, mas se interessa também por uma lista quase infinitas de coisas. É casado com Ana Paula Laux, com quem tem um filho e um casal de gatos: Agatha e Sherlock.

ENTREVISTA

 

Na entrevista para o Estopim Periódico, uma conversa sobre os personagens do gênero, a criação do e-book Os Maiores Detetives do Mundo e o papel da literatura policial nos tempos atuais.

 

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Repórter Ping Pong*

 

| Chris Lauxx escreve as novas páginas do gênero policial da literatura ilhéu |

(22/12/2014)

Um casal de jornalistas, provavelmente comandados pelos felinos Agatha e Sherlock, resolveu unir sua paixão pelo gênero policial e criar um livro digital. O resultado disso é o e-book Os Melhores Detetives do Mundo¹, que reúne 60 personagens da literatura policial. É uma enciclopédia pop, como dizem seus autores, com curiosidades, perfis dos personagens do gênero e minibiografias dos autores. A seleção respeitou dois critérios: popularidade e relevância e passeia por Mandrake, de Rubem Fonseca, Hercule Poirot, de Agatha Christie, Maigret, de Simenon, até Scooby Doo aparece na enciclopédia.

Os autores são os jornalistas Rogerio Christofoletti e Ana Paula Laux, mas a dupla resolveu criar um terceiro elemento, o pseudônimo Chris Lauxx. A prática é comum, de acordo com os próprios autores de Os Melhores Detetives do Mundo, um casal de jornalistas da Suécia, criadores de Lars Kepler, é o mais famoso exemplo.

A novidade está no futuro. Nesta primeira obra, os amantes do gênero poderão descobrir os segredos de personagens espalhados pelo mundo, passeando pelos 150 anos da literatura policial. Mas, em 2015, Florianópolis será o cenário de um projeto que Chris Lauxx está desenvolvendo. Uma pilha de corpos e crimes envolventes adoçam a aguardada trama.

Nesta entrevista, propus a Rogério e Ana, que são os humanos de Agatha e Sherlock, uma dinâmica. Nas linhas abaixo, eles assumiram a responsabilidade de responder pelo pseudônimo, revelando a dupla personalidade deste detetive. Assim, quando a pergunta se dirigir a Lauxx, Ana nos responde e quando Chris assumir a palavra é porque Rogério se manifestou. Chris Lauxx veio para fincar o pé no gênero policial da literatura ilhéu. Não duvide, pois, nesta entrevista, eles até sugerem um plano para acabar com a corrupção no Brasil.

O livro representa o pico de uma atividade que Ana iniciou no seu TCC em 2009, quando fez o Almanaque dos Detetives. A união com Chris permitiu quais aspectos que possibilitaram a construção de um projeto maior? Qual o papel dele na obra atual?
Lauxx - A princípio, quando eu montei o Almanaque era uma espécie de introdução, com apenas os dez perfis. Quando o Chris se uniu ao projeto, a gente conseguiu valorizar mais o conteúdo e aprofundá-lo. Conseguimos perceber a relevância do tema que a gente estava tratando. Inclusive, nós avançamos. Não nos restringimos aos 60 personagens, nós fomos para 150. Então foi importante porque conseguimos fazer um projeto juntos, nós já tínhamos essa intenção, e conseguimos nos encontrar ali.

Chris, seu lado feminino enxerga em Agatha Christie o maior talento autoral da área, mas e você, em que autor, se enxerga vidrado?
Chris - Em muitos. Depende do sentimento que impera. Se estou buscando algo mais filosófico, existencial, vou ao García Roza, ao Maigret, do Simenon. Se é algo mais troca de socos, pancadaria, ação, vou a Dennis Lehane. Depende muito do que está se buscando para encarnar e para descobrir crimes e solucionar casos.

Então é vasto o universo?
Chris - É. O detetive é um personagem que desafia o tempo, as mídias, as fronteiras geográficas, as línguas. A gente encontra detetives das mais diversas estirpes, classes sociais. São homens, mulheres, tem até freis franciscanos, no caso do Umberto Eco com o Guilherme de Baskerville, desvendando crime. Tem um cachorro, como o Scooby-Doo, desvendando mistério. É um tipo de personagem que nos conduz a buscar verdades e isso é muito contemporâneo.

Lauxx, como você filtrou o vasto mundo dos detetives e chegou neste recorte de 60 nomes?
Lauxx - Usamos vários critérios. A princípio aqueles que pelos 150 anos de literatura policial moderna tiveram mais representatividade. Os precursores, começando com Edgar Alan Poe, no século XIX, e depois Sherlock Holmes. Pegamos a era de ouro, aqueles que até hoje influenciam de alguma forma e aí fomos pelo feeling, né Chris? Pelos filmes, pelo que a gente achava que tinha mais relevância, que tinha saído em série de tevê, os best-sellers.

Editorialmente, por que escolher este tema para servir aos olhos do leitor?
Chris - O detetive nos conduz por narrativas para mostrar a verdade, mostrar como as coisas aconteceram. A outra razão é que a literatura policial trata do maior evento da vida, que é a morte. O crime é um grande gatilho para a morte. A gente não gosta, a gente tenta evitar o assunto, esquecê-lo, mas todos nós nascemos para uma hora morrer. O que o crime faz é adiantar isso, precipitar esse momento importante. É no entorno da morte, do crime em si, que uma série de personagens desfila e constrói uma narrativa, uma arquitetura bem complexa. A literatura policial, em particular, é uma engenharia. Você tem ali toda uma engrenagem bem amarrada para que não haja furo de roteiro, soluções mágicas, inverossímeis. Então, abordar a literatura policial, hoje, é discutir, entre outros aspectos, violência, ou como as pessoas se organizam na sociedade, como as pessoas reagem e às vezes como não reagem e se omitem diante de injustiças sociais.


Lauxx - É discutir a própria história né? Porque existem muitos, como esse do Umberto Eco, que se passam na Idade Média, então você faz um resgate. Na verdade você aprende sobre a história, a geografia daquele lugar. Você encorpa um conhecimento que vai além do: quem matou? Você acaba discutindo vários conceitos. A literatura policial não é superficial e, hoje em dia, a gente tem a oportunidade de ver isso em vários gêneros dela.

Lauxx, a mídia consegue chamar bastante atenção das pessoas com notícias sobre crimes emblemáticos, malévolos. O gênero também chama muita atenção das pessoas por ser assim bem tramado, envolvente, perverso?
Lauxx - Acho que de maneira geral as pessoas tem necessidade de acompanhar uma trama e tentar conseguir descobrir quem fez aquilo. Elas gostam de se envolver pela história. Não sei até que ponto a violência na trama, na narrativa, chama tanta atenção assim.


Chris - Eu acho que pode chamar atenção sim, afinal, as pessoas se guiam pelos instintos mais primários, por exemplo, pulsão de morte, sofrimento, sangue e pulsão de amor, sexo, essas coisas também guiam as pessoas. Mas acho que na literatura policial, o fato de percorrermos junto com o detetive um caminho para chegar à verdade, é uma maneira também de colocar ordem no caos, porque a morte o assassinato, o crime, desestabilizam. Então como é que se estabiliza isso? Provocando justiça e, para isso, tem que saber quem fez o que e em quais circunstâncias para daí aplicar a lei.


Lauxx - Existem diferentes tipos de leitor. Quem acompanha Agatha Christie, por exemplo, que vendeu bilhões de livros, sabe que ela tem uma espécie de narrativa que te conduz a querer descobrir quem é que matou. Claro, ela te acrescenta, porque entra na era Vitoriana² e você acaba conhecendo aqueles aspectos, mas não é uma literatura tão densa. E daí você pega um livro do Dennis Lehane, ou Henning Mankell e acaba descobrindo outra realidade, lá da Escandinávia, de um escalpelamento, e uma coisa que você não imaginava que aconteceria em um país tão equilibrado e desenvolvido. São nuances e diferentes tipos de leitores, por isso falo que são subgêneros. Essa é a riqueza deste tipo de literatura que você não consegue estereotipar e dizer que quem gosta de literatura policial gosta só por causa disso ou daquilo. É um leque de motivos, na verdade. Eu sou um pouco mais purista do que o Chris. Gosto mais dos clássicos e ele prefere os mais contemporâneos. Eu vou dizer que gosto mais da Agatha, ele Garcia Roza, Dennis Lehane.

Lauxx, e a ideia de um futuro romance policial para 2015. O que você investigará?
Lauxx - Estamos fazendo revisões de um texto que nós pretendemos finalizar agora no primeiro semestre de 2015. Será uma detetive de Florianópolis. Nós queremos contextualizar a história aqui. Queremos começar a desenvolver a nossa narrativa policial e sair um pouco da biografia dos autores.

A marca autoral do pseudônimo será mantida?
Lauxx - Sim. Assim como há outros autores que fazem isso também, acho que o caso mais famoso é Lars Kepler na Suécia, que também é um casal de jornalistas que já vem publicando há algum tempo. Eles adotaram um pseudônimo para tocar a vida literária em comum.

Tem traços com a realidade, ou vocês estão somente na ficção?
Chris – Sim. Ele é um romance realista, mas não é biográfico nem autobiográfico. A gente aproveita a geografia da cidade para ambientá-lo. Então os personagens caminham por aqui, têm as referências, afetivas ou não, tem um contexto politico social também.


Lauxx - Tem um tempero folclórico. Tem um pouco de tudo.


Chris - Nossa convicção é de que crimes não acontecem somente nos grandes centros. Acontecem em qualquer parte, inclusive em Florianópolis. Nós já tivemos um detetive do Jair Hamms.


Lauxx - Temos o detetive do Mario Prata também, Ugo Fioravanti, mas agora está na hora de as mulheres se manifestarem.

Chris, o formato do livro, com perfis dos detetives, biografia dos autores, curiosidades, recomendação de filmes com as personagens dá ao leitor a possibilidade de ampliar seu conhecimento no gênero policial. Essa é uma grande sacada do livro?
Chris - A gente quis compartilhar uma paixão. Quando encontramos um grupo de amigos que têm um gosto comum, ficamos naquela rodinha fazendo listas de personagens prediletos, dos filmes de que mais gostamos. Pensamos que esse livro, que estamos chamando de enciclopédia pop, é uma forma de reunirmos 60 personagens, as suas referências do mundo da cultura pop, da cultura de massa e como que isso de alguma maneira contagia nossas vidas. O leitor pode ler de maneira sequencial, e ele vai ter uma noção da evolução do gênero, ou se ele preferir, ler os seus principais, e depois ir para os demais e não terá prejuízo.

Chris, o meu consumo ao gênero explorou Rubem Fonseca. Apaixonei-me pela personalidade de sua escrita e pelo seu domínio com o gênero. O livro cita algum personagem desse autor?
Chris - Cita Mandrake, que é obrigatório, é o pai dos detetives brasileiros, claro que teve gente antes. O que o Rubem Fonseca fez nos anos 1960 e 1970 é duradouro até hoje, por mais que digam que ele não se renova. Mas aquilo é Rubem Fonseca e nos basta. É o que de melhor temos.

Lauxx, seu domínio em redes sociais, e no mundo digital, fez a diferença para que o livro atingisse sucesso?
Lauxx - Nunca se sabe onde vamos encontrar nosso leitor, nem quem gosta de romance, de literatura policial, então temos que bater nas portas, mostrar, fazer a propaganda. A gente tem um site sobre literatura policial, então estamos sempre trocando ideias, divulgando, fazendo agenda. Isso é importante. No caso, a gente se concentra em escrever sobre literatura policial e está dando uma força para todo mundo que quer mostrar seu trabalho, porque sempre é difícil. A gente sempre encontra pouco espaço. Os eventos literários não são suficientes, então eu penso que a gente sempre tem que estar dando visibilidade um ao outro e rede social é legal porque se pode trocar ideia mesmo a distância.

Chris, já vi seu nome em outros e-books o que o torna um conhecedor da mídia. Essa novidade vai roubar o espaço dos livros físicos, ou eles conviverão paralelamente?
Chris - Eu tenho minha carreira na academia, também gosto muito do que faço lá e essa é uma oportunidade de dar vazão a outras coisas que eu gosto, no caso, a literatura policial. A ideia é fazer de maneira paralela. Eu sou do signo de gêmeos então estou habituado a essa esquizofrenia.

Pensando mais amplamente, no mercado editorial, o e-book veio para substituir o livro impresso? Como você vê essa questão?
Chris - Acho que não. Já estamos observando um crescimento dos livros eletrônicos, mas não haverá substituição. Com o desenvolvimento dos dispositivos, que estão cada vez mais portáteis (tablets, celulares, notebooks), e cada vez mais baratos, tudo isso facilita o consumo desses livros. Quem gosta de ler vai carregar livros no bolso em seus dispositivos que pesam 500 gramas, e também vai ter uma biblioteca grande em casa. Acho que não vem pra substituir, mas pra oferecer possibilidades de acesso à leitura.

Qual o melhor detetive de todos os tempos?
Lauxx – Hercule Poirot, da Agatha, foi o primeiro que conheci e estará para sempre no meu coração.

Chris - A minha tendência é falar que é o Sherlock Holmes, mas minhas inclinações mostram que é o Batman.

Lauxx, a mídia televisiva e escrita deu atenção à obra, as vendas foram bem. A que você atribui o sucesso de marketing de vocês e o posterior sucesso de vendas?
Lauxx - Acho que é a prova de que a literatura policial é um gênero que interessa muito. O detetive é um personagem intrigante. O mercado editorial vem percebendo isso e vem investindo mais. Se você for ver os livros mais vendidos no Brasil encontra uma lista imensa de literatura policial, então acho que o interesse das pessoas em conhecer nosso trabalho está diretamente ligado ao fato de que o tema é comumente interessante.

Chris - As pessoas podem ter diversas viagens lendo literatura policial. Elas podem conhecer, sei lá, os aspectos da cultura lá da Itália do Andrea Camilleri, que criou o comissário Montalbano, podem conhecer a culinária local. Um pouco de Boston, do Dennis Lehane, do Rio de Janeiro através do Luiz Alfredo Garcia Roza, a Escandinávia, enfim, e podem ter diversão associada à acúmulo cultural. As pessoas observam que isso de alguma maneira entretém, as distrai e permite um prazer que é próprio da arte.

Lauxx - E não são poucos os livros que te fazem refletir. Ela não é uma literatura só de entretenimento. Existem várias narrativas que te fazem pensar sobre a sociedade e fazem questionar.
Chris – Sim. E também sobre a natureza do mal, sobre a própria violência, sobre como a sociedade se organiza e sobre como o crime está sempre junto com a evolução da sociedade. A sociedade evolui, mas não consegue resolver o crime, a corrupção, a morte, os extintos primários, a morte por ciúmes, por dinheiro, então são coisas recorrentes e temas universais.

Chris, que detetive atuaria muito bem para prevenir o Brasil do vírus da corrupção?
Chris - (Pausa longa para elaborar um plano eficaz). Na verdade, acho que tem que juntar esses 60. Tem que ser um esquadrão. A corrupção é uma discussão muito atual, no Brasil vem se falando muito, mas em outras partes também. É um tema que nos desafia desde sempre. Se olharmos para Shakespeare, século XV e XVI, podemos vê-lo tratando de corrupção, de um querer passar a perna no outro e subir na vida nas cotoveladas. Então isso desafia a própria evolução humana. Se nós nos consideramos animais no topo da cadeia evolutiva, nisso estamos devendo e precisaremos de muitos detetives para ajudar.

Para encerrar, Lauxx, quem cuidou de Agatha e de Sherlock nesse período em que você mergulhou em pesquisas?
Lauxx - Eles são meio autolimpantes.

Chris - Eles é que cuidam da gente! Quando eles miam, dizem: “ou, me alimenta” e a gente tem que sair da literatura e voltar para a vida real, alimentar, trocar areia, abrir a porta. A gente fala assim “ah, os nossos gatos”. Na verdade eles nos olham de uma maneira enigmática como quem diz “nossos humanos estão chegando”.

Chris, uma mensagem final para o nosso leitor:
Chris - Esperamos que os Melhores Detetives do Mundo seja um estopim para as pessoas lerem literatura e conhecerem essas novas e antigas manifestações de arte que contagiam tanta gente.


 

* O Repórter Ping Pong é um disfarce de Nícolas David

Foto: Paulo Henrique Wolf

Chris Lauxx 2014 © Todos os direitos reservados.

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